O dia em que um carro poderia valer mais que a minha vida

Segunda feira, um dia normal como qualquer outro, eu sai da faculdade e precisei passar na casa de um amigo. Entreguei o que precisava para ele, dei tchau e manobrei o carro para poder voltar pra casa. Eis que dois rapazes, com cara de moleques de rua, atravessaram a rua e vieram em minha direção. Eu já sabia que alguma coisa estava errada. Tranquei as portas e continuei manobrando. Até que fui surpreendida por uma arma. Olhei para o bandido, olhei pra arma, olhei para minha bolsa, olhei para meu celular e eu só escutava “desce do carro, rápido, desce desce desce”. Fiz o que ele mandou, larguei tudo, abri a porta e desci.

Naquele momento, com a arma na minha direção, ele não queria saber quem eu era, não queria saber se eu tinha batalhado para conseguir aquele carro, não queria saber nem se eu era uma pessoa boa ou má. Ele queria o meu carro a qualquer custo. Se eu reagisse, eu sabia que de alguma forma eu iria sofrer, seja com um tiro ou com uma coronhada. Eles estavam determinados, queriam meu carro! Conseguiram… o bandido e a arma dele venceram. Venceram uma competição injusta, uma competição desigual, uma competição que eu chamo de covardia.

Eu cheguei num ponto do desespero que eu agradeci mentalmente ao ladrão por ter sido tão generoso e não ter tirado a minha vida. Eu poderia ter sido mais uma Mirela ou eu poderia ter sido mais uma Vivian. Graças a Deu não, fui só mais uma vítima da violência grotesca de uma cidade que era considerada segura.

No fim esses bandidos não roubaram só meu carro, roubaram a minha segurança também. Eu fecho os olhos e só vem aquele momento da arma na minha direção. Eu não consigo pensar em outra coisa, não consigo mesmo. Eu tento manter minha mente ocupada com outras importâncias, mas ainda não é suficiente.

Sabe o pior? Fui fazer o boletim de ocorrência e o policial contou que fui a terceira vítima da noite a ser assaltada a mão armada. Existiam mais duas Angelas além de mim. Duas pessoas que também devem ter se sentido impotentes diante de uma arma. O que está acontecendo com Criciúma? Alguém me explica, por favor.

Espero que essa minha melancolia passe rápido, não faz meu gênero ser assim. Em breve quero voltar a ser aquela garota sorridente, que não guarda mágoas, que ri de tudo, que é feliz e que pesquisa no google “como viajar mais barato” ao invés de “como reagir à assalto a mão armada“.

Se eu to feliz por terem achado meu carro um dia depois abandonado por ai? Sim, muito! Se isso me conforta? Nem um pouco!

2 Comments

  1. Infelizmente a Criciúma tão segura não temos mais, a mesma melancolia e medo que estais à sentir, estamos passando também, pois há 5min antes que você eu estava manobrando o meu carro no mesmo portão, rua na qual nunca imaginamos que poderia ocorrer. Assim sendo o seu sentimento é o meu sentimento.. Todos os nosso planos da semana se não do mês foram modificados, o medo hoje nos toma conta e através dele é que estamos movendo nossas vidas… Mas realmente agradecemos à Deus pois estamos vivas e que este pesadelo logo passe!

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